segunda-feira, dezembro 1, 2025
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Projeto Conhecer para Incluir encerra atividades com avaliação positiva e seminário sobre inclusão em Açucena

Iniciativa da AMAD entrega diagnóstico inédito sobre transtornos do neurodesenvolvimento e reforça urgência de políticas públicas integradas

AÇUCENA — O projeto Conhecer para Incluir, desenvolvido pela AMAD em parceria com a Prefeitura de Açucena, CMDCA e com apoio da Cenibra, encerrou suas atividades na última quarta-feira (26) com um seminário que reuniu profissionais da Educação, Saúde e Assistência Social, além de famílias atendidas pela instituição. A iniciativa recebeu avaliação positiva por parte da equipe técnica, das instituições parceiras e dos participantes.

A abertura do evento foi marcada por um desfile de peças produzidas nas oficinas de customização da AMAD, apresentadas por usuárias da associação, que desfilaram roupas e acessórios confeccionados ao longo do projeto. As peças permaneceram expostas durante todo o seminário, reforçando o impacto das oficinas e a potência criativa das participantes.

O encerramento contou com a presença de representantes do poder público e de instituições parceiras, entre eles Márcia Rocha, do setor de Relações Institucionais e da Comunidade da Cenibra, que acompanhou as apresentações e o debate sobre os resultados do diagnóstico.

FAMÍLIAS

Na véspera, um encontro exclusivo com famílias abriu espaço para relatos sobre rotina, dificuldades de acesso ao atendimento, incertezas diante de diagnósticos e a sobrecarga emocional vivida por cuidadores. Esses depoimentos influenciaram as discussões técnicas do seminário e reforçaram a necessidade de políticas integradas.

Durante os seis meses de realização, o projeto promoveu oficinas de customização, rodas de conversa, escutas ampliadas, visitas domiciliares e levantamentos em escolas e unidades de saúde. Os dados foram sistematizados em um catálogo impresso, entregue ao público no dia do seminário, reunindo informações sobre autismo, TDAH, dislexia, atrasos no desenvolvimento e situações de sofrimento psíquico.

A psicóloga Elmina Ferreira, responsável pela coordenação do diagnóstico, destacou que o território de Açucena impôs um dos maiores desafios. “Chegar às famílias foi o maior obstáculo. O município é extenso, com acesso difícil, e isso também é a realidade delas: deslocamentos longos, cansativos e custosos para buscar acompanhamento. Esse sofrimento apareceu em cada escuta. A demanda cresceu muito e, para muitas famílias, chegar até a sede já é um desafio que não temos como eliminar de imediato”, afirmou.

FRAGILIDADE

Elmina observa que o diagnóstico revelou uma fragilidade ainda mais profunda: a falta de informação sobre os transtornos e sobre como manejar comportamentos e intervenções. “O que o estudo revelou de forma mais contundente é a desinformação: como lidar com o transtorno, como intervir, como entender comportamentos atípicos. As pessoas são subjetivas, e o adoecimento também é. Fechar diagnósticos é complexo. Por isso, integrar Saúde, Educação e Assistência Social não é apenas importante — é urgente.”

A psicopedagoga Salomé Nogueira ressaltou o impacto emocional do processo. “Durante todo o trabalho, percebemos algo muito simples e muito profundo: as pessoas queriam ser escutadas. Elas se sentiram aliviadas ao falar. Muitas nunca tiveram voz ativa, nunca se perceberam pertencentes. O projeto escancarou portas.” Ela destacou ainda a formação de uma rede local de apoio. “Estamos tecendo parcerias. Um parceiro hoje, outro amanhã. Isso nos anima e nos dá coragem para continuar. Saio do seminário com ideias fervilhando. Acredito que podemos muito mais.”

O diagnóstico aponta que o TDAH é atualmente o transtorno mais frequente entre crianças e adolescentes acompanhados, superando inclusive os registros de autismo. A consolidação desses dados permitirá a elaboração de estratégias específicas para cada área, com fluxos mais claros e ações integradas.

LEGADO

Para Sammy Siman, presidente da AMAD, o projeto inaugura uma nova fase da política de inclusão no município. “O ‘Conhecer para Incluir’ deixa um legado concreto. Agora sabemos onde estão as crianças, quais são suas necessidades e como a rede pode atuar de forma articulada. O diagnóstico não encerra o trabalho; ele inaugura o planejamento. A avaliação é muito positiva porque conseguimos unir famílias, escolas, unidades de saúde e a assistência social em torno do mesmo objetivo: garantir direitos e construir políticas públicas mais humanas e mais eficazes.”

O seminário reforçou a importância da articulação intersetorial, da escuta qualificada e do uso de dados para orientar políticas públicas. A AMAD pretende expandir as ações em 2026, fortalecendo vínculos institucionais e ampliando a rede de apoio às famílias.

 

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