sexta-feira, abril 26, 2024
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Com 127 anos, Congado São Sebastião de Timóteo enfrenta dificuldades, mas mantém a tradição

A maioria das atividades acontecem na sede do Congado na rua Noruega, bairro Ana Rita.

TIMÓTEO – O Centro Cultural Congadeiro de Timóteo (Congado São Sebastião de Timóteo), que neste ano completou 127 anos, passa por diversas dificuldades para a manutenção de suas atividades. A guarda de Congado tem sede própria no bairro Ana Rita, na rua Noruega. Contudo, a estrutura do local necessita de uma série de melhorias para proporcionar qualidade e segurança para a realização das atividades dos congadeiros.

Quem se queixa e explica a situação que se encontra a sede própria do Congado São Sebastião é a atual presidente Elizabeth Pinheiro, eleita no ano de 2019. “A nossa estrutura é muito precária. Precisamos urgentemente de um muro mais alto, porque do jeito que está, a gente não pode nem deixar os instrumentos guardados na sede” explica, lembrando que os capitães da Guarda | Fia Vitório e Geraldo Augusto | estão presentes em todos os passos da organização do Congado.

Elizabeth Pinheiro é a rainha conga e presidente do Congado

Bete, como também é conhecida, ainda ressalta que, apenas no ano passado, por meio de um termo de colaboração com a Prefeitura de Timóteo, o Congado São Sebastião adquiriu o primeiro bebedouro e um fogão para a cozinha. “Com 127 anos de história, apenas no ano passado conseguimos adquirir esses itens. Uma geladeira, um fogão, e um espaço adequado para os congadeiros não é um luxo, e sim uma necessidade”, reforça.

Além da questão estrutural, a presidente do Congado ainda ressalta a dificuldade para a locomoção dos congadeiros para outras festas culturais devido à falta de transporte. “O que nós queremos é que o poder público olhe para o Congado de São Sebastião de Timóteo com mais carinho, e nos ajude a continuar preservando a nossa história”, indica.

Outra dificuldade apontada é a falta de preservação e documentação e de registro histórico do Congado. Para essa situação, Bete diz que está dialogando com a Administração Municipal para que seja feito um acervo online do congado. Ela diz que após a emancipação da cidade, tem-se documentado os nomes e sobrenomes dos reis e rainhas festeiros da cidade de Timóteo, mas que antes da emancipação não há qualquer registro sobre as demais festividades.

Projetos sociais

A distribuição de verduras foi iniciada ainda na pandemia

Com a chegada da pandemia em 2020 e a interrupção das atividades do congado, surgiu então a ideia de realizar doação de verduras para ajudar pessoas afetadas pela pandemia. A iniciativa surgiu em junho de 2020 entre a presidente do Congado de São Sebastião, Elizabeth Pinheiro e a gestão passada da Associação de moradores do bairro Bela Vista, com a presidência de Eva Maria Vieira.

“Nós começamos com a doação de verduras às pessoas que estavam precisando e até hoje damos continuidade com esse trabalho, tanto na Associação de moradores do bairro Bela Vista quanto na sede do Congado São Sebastião no bairro Ana Rita”, explica Bete.

Além dessa iniciativa, o Congado de São Sebastião também realizou a arrecadação de caixas de leite no período da pandemia para doação. E, todos os meses, realizamos o “varal solidário” que tem como objetivo fazer também a doação de roupas e calçados às pessoas mais necessitadas.

O varal solidário

Participação das mulheres no Congado de Timóteo

Segundo a presidente do Congado, apesar da dificuldade de se encontrar registros, as mulheres conquistaram o seu espaço no congado de Timóteo há muitos anos. Conforme explica, as mulheres sempre tiveram uma participação expressiva, quer seja na confecção e preparação das festas e das comidas como também tocando os instrumentos em dias de festa.

“Eu encontrei uma ata de reunião do ano de 1980 do Congado de São Sebastião, e a presidente era uma mulher, a dona Núbia Batista. Além disso, já nessa época, havia uma intensa participação feminina no congado” disse.

Para Bete, é necessário que a participação feminina seja valorizada com igualdade e levando em consideração os pequenos avanços conquistados ano após ano dentro do Congado.

Projetos futuros

No ano passado, o Centro Cultural Congadeiro de Timóteo foi contemplado, por meio de edital da SECULT (Secretaria de Estado de Cultura e Turismo) com um valor que deve ser investido na promoção de eventos em prol da cultura do congado.

A presidente do congado São Sebastião, Elizabeth Pinheiro, disse que a intenção é a de realizar um evento  denominado “tradições e saberes”, que terá como objetivo convidar outras guardas de congados para a troca de conhecimentos e cultura, como uma forma de manter viva a história e a importância do congado de uma maneira geral.

Respeito e valorização a cultura

Com 127 anos, o Centro Cultural Congadeiro de Timóteo é uma das associações culturais mais antigas da região do Vale do Aço como também de Minas Gerais. Elizabeth Pinheiro faz um apelo à sociedade e, principalmente ao poder público para que ajude a manter viva essa história.

“Tudo o que é bom precisa de continuidade. O  congado é a essência da cultura mineira, quer seja guarda de congo, candomblé ou umbanda.  A cultura afro é uma cultura muito rica e em pleno século XXI  não nos cabe discriminar nada nem ninguém. A nossa história precisa ser valorizada, respeitada e, principalmente mantida. Por isso, fazemos um apelo a toda a sociedade e ao poder público para que nos ajudem, olhem para o Congado de São Sebastião com mais cuidado e valorização. Somos mais do que parte da história de Timóteo” destacou.

A história

O mestre o senhor Manoel Vitório

O Congado São Sebastião de Timóteo teve início em 1895, sendo fundado pelo posseiro Manoel Berto de Lima. Na época, a entidade tinha como mestre o senhor Manoel Vitório, cujos descendentes mantiveram o legado cultural. Atualmente, a entidade tem como capitães da guarda Maria Pereira dos Santos, filha de Manoel Vitório e membro do congado há 67 anos, e Geraldo dos Santos Augusto membro há 52 anos.

Manoel Vitório, o primeiro mestre-regente da entidade recebeu como homenagem a designação de uma praça com seu nome no bairro Bela Vista, onde residia. Neste bairro nasceram seus filhos, netos e bisnetos – muitos dos quais ainda residem no local – que consolidaram as bases para o fortalecimento da entidade, que mantém viva as crenças folclóricas e religiosas congadeiras de matriz afro-brasileira.

É uma história de resistência, fé e de devoção a vários santos, dentre eles Nossa Senhora do Rosário, cujos festejos desde sua criação há mais de um século. E mantém as tradições desde a emancipação oficial da cidade de Timóteo em 1964.

=Por: Lais Carvalho – Jornalista/Timóteo-MG =

 

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