terça-feira, abril 23, 2024
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VACINA COVID-19: Testes em milhares de pessoas já estão sendo feitos pelo mundo

Redação – Se as pesquisas em curso confirmarem o sucesso que obtiveram até então, as vacinas de covid-19 serão as mais rápidas já desenvolvidas pela ciência. Menos de um ano depois dos primeiros casos da doença na China, em dezembro de 2019, testes em milhares de humanos já estão sendo feitos pelo mundo, incluindo o Brasil.

Entre as pesquisas consideradas mais promissoras, quatro realizam testes no país: a vacina desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford, do Reino Unido, a das farmacêuticas Pfizer (Estados Unidos) e BioNTech (Alemanha), a vacina Coronavac, criada pela empresa chinesa Sinovac, e a unidade farmacêutica da empresa Johnson & Johnson, a última que teve testes clínicos autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na semana passada.

Antes de serem aplicadas em grande número de voluntários, essas fórmulas passaram por uma série de testes para verificar a segurança. Mesmo assim, muito trabalho ainda será necessário para garantir que elas sejam eficazes o suficiente para chegar aos postos de vacinação de todo o planeta e ajudar a conter a pandemia. O caminho entre o laboratório e a imunização será explicado pela Agência Brasil nesta semana.

Como funciona uma vacina?

A ação de uma vacina pode ser explicada em poucas palavras: antecipar o contato do corpo com um microorganismo de forma segura, o que prepara nosso sistema imunológico para quando esse antígeno de fato tentar provocar uma infecção. Um corpo vacinado já tem anticorpos, sabe o caminho para produzi-los e, portanto, se defende mais rapidamente desse invasor.

O desenvolvimento de uma vacina nos dias atuais é um trabalho complexo de estabelecer a melhor maneira de expor o corpo, de forma segura, a esse contato antecipado. As vacinas precisam conter ao menos pedaços dos microorganismos, que sejam inofensivos o suficiente para serem seguros de injetar no corpo humano. Mas, por outro lado, essas frações precisam ter as informações necessárias para que o corpo consiga trabalhar na produção de anticorpos e se preparar para a infecção.

Tipos de vacinas

O primeiro passo que os pesquisadores precisam dar nesse sentido é identificar uma parte do corpo do microorganismo, uma molécula, que provoque resposta do sistema imunológico ao entrar em contato com células humanas. Para essa investigação, os cientistas contam atualmente com uma ferramenta poderosa: o sequenciamento genético, que é um mapeamento de todas as informações de um organismo.

A velocidade com que o coronavírus SARS-CoV-2 foi sequenciado na China, ainda em janeiro, permitiu que pesquisadores identificassem a proteína S, que forma a coroa de espículas, pequenos espinhos, que dá nome ao coronavírus. Essa molécula é a estrutura que o vírus utiliza para invadir as células humanas, mas também provoca resposta das defesas do organismo.

A vacina pesquisada pela Universidade de Oxford, por exemplo, busca neutralizar a ação que o vírus faz a partir dessa proteína, o que poderia impedir que ele invadisse uma célula e a utilizasse para se multiplicar. Para isso, a proteína foi clonada e inserida em um adenovírus de chimpanzé. Esse microorganismo, causador de resfriados simples, passa a ser utilizado como um vetor viral, um veículo para transportar a proteína S.

Os testes em desenvolvimento buscam confirmar que, quando esses adenovírus são inoculados em humanos, ocorre a resposta imunológica à proteína S. Se isso for verdade, ao entrar no corpo de uma pessoa vacinada, o coronavírus já encontraria o organismo preparado para reagir a essa forma de invasão. Também em testes clínicos no Brasil, a Johnson & Johnson utiliza adenovírus humanos em vez dos de chimpanzé. Outros projetos estudam a utilização do vírus influenza em vez do adenovírus.

Há ainda vacinas que já estão em testes em humanos e utilizam o próprio SARS-cov-2 morto, como forma de provocar essa resposta imunológica. É o caso da vacina coronavac, desenvolvida pela Sinovac. Nesse caso, é chamada de vacina com o vírus inativado, técnica que é comum em outros produtos já disponíveis no sistema de saúde, como as vacinas contra a gripe e a raiva.

Testes em laboratório e em humanos

As propostas de vacinas consideradas mais viáveis passam por testes em laboratório, em que são observados os potenciais de estimular a produção de anticorpos em células expostas. Outro objetivo central é avaliar se o contato dessa formulação com o organismo produzirá efeitos adversos.

Nessa etapa da pesquisa, os cientistas utilizam testes in vitro e também em animais que têm uma resposta imunológica semelhante à dos seres humanos, como outros primatas. Além de observar a resposta provocada pelas vacinas, essa etapa busca garantias de que há segurança suficiente para iniciar testes em seres humanos.

O assessor científico sênior de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Akira Homma, explica que esses testes exigem laboratórios sofisticados, em que haja segurança para lidar com os antígenos. Quando os testes em laboratório comprovam que uma vacina é capaz de estimular a produção de anticorpos sem oferecer riscos ao organismo, começa a fase mais longa da pesquisa, que é a testagem em seres humanos, chamada de testes clínicos.

Homma acrescenta que esses testes são divididos em quatro fases: Na Fase 1, é demonstrada a segurança da vacina a partir de testes em um grupo reduzido de pessoas jovens e sadias. Já na Fase 2, os pesquisadores partem para um grupo com centenas de voluntários, incluindo integrantes das populações-alvo da vacinação, como crianças e idosos, se for o caso. Nessa fase, a pesquisa busca também definir a melhor dosagem da vacina para a produção das defesas do organismo.

A etapa mais longa do desenvolvimento de uma vacina costuma ser a Fase 3, em que a observação é ainda mais extensa, com milhares de voluntários. O objetivo dos pesquisadores, com essa etapa, é verificar a eficácia da imunização, comparando um grupo de pessoas vacinadas com outro que recebeu doses de placebo.

“Essa fase sempre é feita em regiões onde há maior incidência da doença que está sendo pesquisada. Por exemplo, a Fase 3 para a vacina de covid-19 está sendo feita no Brasil porque o país tem grande incidência”, diz o pesquisador.

A circulação da doença é importante porque o grupo vacinado e o grupo controle, que recebeu placebo, vão se expor à contaminação no seu dia a dia, para que, após um período, seja possível comparar se as pessoas vacinadas de fato ficaram protegidas contra a infecção. Quanto maior for a circulação da doença, menor é o período necessário de observação.

Os testes clínicos em curso no Brasil, como as vacinas de Oxford e a coronavac, estão na Fase 3. No caso da vacina chinesa, por exemplo, as doses serão aplicadas em 9 mil profissionais de saúde que atuam na linha de frente contra a covid-19. Na Fase 1 de ensaios clínicos, houve apenas 144 voluntários, e, na Fase 2, 600. Os testes clínicos da coronavac no Brasil estão sob condução do Instituto Butantan após acordo entre a Sinovac e o governo de São Paulo.

Em entrevista à Agência Brasil, o diretor médico de Pesquisa Clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, contou que os testes de fases 1 e 2 tiveram resultados promissores na China.  “Os estudos feitos até agora na China demonstraram que mais de 90% dos voluntários que receberam as vacinas tiveram anticorpos capazes de neutralizar o coronavírus, isso é um diferencial”, disse Palácios.

No caso da vacina Astrazeneca/Oxford, os testes no Brasil estão sendo conduzidos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com mil voluntários, e o Instituto D’or de Pesquisa e Ensino, que realiza os testes com 1,5 mil voluntários no Rio de Janeiro e mais 1,5 mil em Salvador.

Depois da Fase 3 de testes clínicos, as vacinas já podem ser submetidas ao crivo definitivo das agências reguladoras, que acompanham todas as fases de testagem. No caso do Brasil, a aprovação é feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que vem adotando regras especiais para acelerar seus processos no que se refere à covid-19. A partir desse aceite, a vacina já pode ser incluída no Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, um dos maiores do mundo.

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