domingo, setembro 21, 2025
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Mineiros deportados dos EUA relatam humilhação e violações de direitos

REDAÇÃO – Perseguições, desaparecimentos, violações de direitos humanos e abandono forçado, em solo norte-americano, de bens, familiares, amigos e projetos de vida. Esses foram alguns dos relatos apresentados em audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Governador Valadares (Vale do Rio Doce), nesta sexta-feira (19/9/25).

A reunião, solicitada pelo deputado Betão (PT), presidente da comissão, ocorreu na Câmara Municipal, para debater os impactos da nova política anti-imigração do governo de Donald Trump e as condições de repatriação de trabalhadores mineiros deportados dos Estados Unidos.

O casal Cristiane de Souza Campos e Wilian Pereira dos Santos faz parte dos quase 2 mil brasileiros obrigados a retornar ao País somente este ano.

Wilian conta que passou 61 dias preso antes de ser deportado. Nesse tempo, perdeu o nascimento do filho. No presídio, sofreu com alimentação de má qualidade e privação de água, limitada a duas garrafinhas por dia. Além disso, foi obrigado a arcar com parte dos custos de sua detenção. “Gastei mais de 500 dólares somente em ligações para a família”, relatou.

Já Josefa Bezerra da Silva, também presente na reunião, teve o filho preso em janeiro em um centro de detenção norte-americano, onde ele permaneceu por quase seis meses. Após ele ser transferido para outro local pelo órgão de controle de imigração dos Estados Unidos (ICE – U.S. Immigration and Customs Enforcement), Josefa ficou mais de três meses sem receber qualquer notícia. Agora, seu filho está prestes a ser deportado para o Brasil.

“Nós estamos sendo caçados como cachorros com raiva. Estamos sendo sequestrados nas ruas por homens armados”, denunciou Heloísa Maria Galvão, cofundadora do Grupo Mulher Brasileira. O grupo, formado apenas por mulheres, presta suporte a imigrantes brasileiros em situação irregular, com o pagamento de fianças, fornecimento de comida e apoio em questões burocráticas.

Entre os casos que chegaram ao conhecimento de Heloísa, ela contou de um brasileiro cujo filho foi assassinado em julho. Com as investigações ainda em andamento, ele e a esposa foram orientados a não deixar os Estados Unidos, apesar de estarem em situação irregular. Desde então, esse brasileiro está desaparecido.

Em outra situação relatada por Heloísa, um brasileiro foi preso por agentes do ICE na frente do filho ainda criança, que foi abandonado sozinho no banco de trás do carro após a operação. “A situação está insustentável. As pessoas não vão ao supermercado, não vão ao médico, não levam os filhos na escola, por medo”, diz a ativista.

Por falta de espaço, conta Heloísa, muitas pessoas estão sendo presas nos escritórios do órgão de imigração e dormindo no chão em esquema de revezamento. Não podem escovar os dentes, tomar banho, trocar de roupa ou fazer uso de medicações prescritas e controladas, tomadas à força pelos agentes norte-americanos.

Mineiros são maioria entre deportados

“Os dados e os fatos que nos chegam dos Estados Unidos não são somente estatísticas, são sonhos sendo destruídos e famílias sendo separadas”, afirmou o deputado Betão.

Bruno Pereira Albuquerque de Abreu, chefe da Divisão de Comunidades Brasileiras e Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que, apesar de o governo federal não poder interferir na legislação estadunidense, o Itamaraty tem agido para reduzir o tempo de detenção dos brasileiros em solo americano.

Ele afirmou que, depois do início do governo de Donald Trump, a retórica norte-americana anti-imigração se intensificou, mas que o número de brasileiros deportados não aumentou tão drasticamente como se imagina. Segundo Bruno de Abreu, o aumento registrado foi de 19% em relação ao mesmo período do ano passado, sendo a maior parte desses deportados de Minas Gerais (mais de 60%).

 

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