Ignorar medidas preventivas pode gerar aumento de doenças respiratórias, alerta infectologista
REDAÇÃO – Com a queda nas temperaturas, Minas Gerais já sente os efeitos de um velho conhecido desta época do ano: o avanço de síndromes gripais e outras doenças respiratórias. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), os grupos mais afetados seguem sendo os mais vulneráveis: crianças com menos de um ano (2.587 internações) e idosos com mais de 60 (15.130). Neste ano, até 7 de maio, o Estado contabilizou 29.723 internações causadas por enfermidades como pneumonia, gripe, sinusite, covid, entre outras, o que levou o governo a decretar situação de emergência em saúde pública, válida por 180 dias.
Carlos Starling, infectologista da Hapvida, explica que, embora as mudanças sazonais contribuam para o crescimento dos casos, o fenômeno não se resume apenas ao clima. Para ele, hábitos simples e eficazes no combate às infecções respiratórias, como a higienização correta das mãos, a vacinação em dia e o uso de máscaras por pessoas sintomáticas devem ser mantidos. “Esses cuidados continuam salvando vidas e não podem ser abandonados. A pandemia deixou lições importantes que devem ser lembradas”, pontua.
É só um resfriado?
Um dos vilões deste período é o vírus sincicial respiratório (VSR), que tem causado preocupação principalmente entre as crianças menores de dois anos. Segundo a Secretaria de Atenção Primária à Saúde, o patógeno é responsável por 80% dos casos de bronquiolite e 60% das pneumonias nessa faixa etária. Os números impressionam: a cada cinco crianças infectadas, uma precisa de atendimento ambulatorial e, em média, uma em cada 50 é hospitalizada ainda no primeiro ano de vida.
O impacto é ainda mais severo em bebês prematuros, mais suscetíveis às complicações. Entre 2018 e 2024, o país registrou dezenas de milhares de internações relacionadas ao VSR nessa população. “É o vírus que tem provocado o maior número de internações hospitalares neste momento, especialmente entre crianças”, reforça Starling.
Além do VSR, continuam circulando outros agentes infecciosos: Influenza, rinovírus, metapneumovírus e a própria covid-19. “A covid ainda mata uma pessoa a cada 29 horas no Brasil. É como se dois aviões cheios de passageiros caíssem por semana e ninguém se chocasse com isso”, alerta o infectologista.
Crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, câncer ou imunossupressão, são os que mais sofrem com as complicações dessas infecções. O que começa como um simples mal-estar pode evoluir, rapidamente, para um quadro grave. Febre persistente, tosse com secreção purulenta ou com sangue, dificuldade para respirar e prostração são sinais de alerta. Nesses casos, é fundamental buscar atendimento médico com urgência.
Outro ponto de atenção está na automedicação, que deve ser evitada. “Remédios como o ácido acetilsalicílico são contraindicados em casos de infecções virais, especialmente se houver suspeita de dengue”, adverte Starling.
Vacinação é cuidado coletivo
Mesmo com vacinas eficazes disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a adesão da população continua abaixo do ideal. “É inacreditável que, mesmo depois de tudo o que vivemos, ainda precisemos combater fake news sobre vacinas”, dispara o especialista.
Starling também critica o abandono de medidas básicas de contenção de vírus. “As pessoas deixaram de usar máscaras mesmo quando estão com sintomas. O que é leve para você pode ser letal para alguém da sua família.” O uso de máscaras, para o infectologista, deveria ser mantido, pelo menos, por quem está doente ou convive com pessoas do grupo de risco.
Outros cuidados continuam sendo essenciais, como manter os ambientes bem ventilados, evitar aglomerações desnecessárias e higienizar as mãos com frequência. “É curioso perceber como o álcool em gel sumiu dos estabelecimentos. A higiene das mãos segue sendo uma das formas mais simples e eficazes de interromper a cadeia de transmissão”, afirma. “O cuidado com a saúde respiratória exige atitude, responsabilidade e informação confiável. Vacina não é só proteção individual. É um ato de cuidado coletivo. Quem se vacina protege também quem está ao lado”, completa Starling.