quinta-feira, abril 18, 2024
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Com nova avaliação na próxima semana, Ipatinga decide manter comércio não essencial fechado

Quadro epidemiológico mostra alentos mas, conforme estudos, pico do Coronavírus é previsto para o final de junho e início de julho na região. Leitos de UTI Covid SUS apresentam lotação esgotada há quatro dias.

Ipatinga – Após mais de duas horas de exposições, reflexões e debates sobre ações realizadas, resultados e projeções do combate ao Coronavírus em Ipatinga, o Comitê Gestor de Crise definiu nesta quarta-feira (10), em encontro na sala de reuniões do gabinete do Executivo, estender até o próximo dia 16 as limitações para funcionamento dos estabelecimentos de segmentos considerados não essenciais. Até a próxima terça-feira, diversos setores do comércio deverão continuar atendendo somente em sistema de delivery. A ideia é que as portas possam ser reabertas na quarta-feira (17), desde que não haja agravamento das estatísticas. O expediente preliminarmente acertado é de 8h às 18h, de segunda a sexta, ficando o horário de sábado a ser discutido também com a participação dos comerciários e possivelmente restrito ao período de 9h às 13h, 14h ou 15h.

Outras propostas foram colocadas e defendidas, como a reabertura das lojas neste final de semana, em caráter extraordinário, diante da perspectiva de aquecimento das vendas em função do Dia dos Namorados, mas não receberam apoio da maioria. Para evitar uma explosão de aglomerações nos meios de transporte e nas ruas, o que poderia colocar a perder os avanços conquistados com as restrições em vigor nos últimos dez dias, o melhor seria completar o ciclo de 15 dias (normalmente guardado como período de quarentena) desde a reunião anterior do Comitê. A partir daí, será feita uma nova avaliação dos números de contaminação e níveis de ocupação dos leitos de enfermaria e UTI, inclusive com convocação extraordinária do Comitê, caso seja necessário.

O fato mais importante considerado para prolongar por mais alguns dias o fechamento do comércio não essencial em Ipatinga, conforme ressaltaram o prefeito Nardyello Rocha e as várias autoridades de saúde pública presentes na reunião, é a ocupação, por quatro dias consecutivos, de 100% dos leitos de UTI Covid SUS no município, que atende uma microrregião de 14 cidades. “Em um desses dias, chegamos a ter 120% de taxa no Hospital Municipal, ou seja, 12 pacientes em condições graves e dois deles esperando vagas nos dez leitos existentes”, citou o chefe do Executivo. Os técnicos de saúde mencionaram ainda que, em média, um paciente ocupa um leito de UTI por um período de 15 a 20 dias.

Testes rápidos e evolução de casos

Na semana de 17 a 23 de maio, o boletim epidemiológico de Ipatinga acusou uma média diária de sete novos casos de Coronavírus, número que subiu para 21 no período de 24 a 30 de maio. De 31 de maio a 6 de junho, a média foi de 31 casos e, na semana iniciada no último domingo, 7 de junho, ela se mantém em 41 casos. Os registros crescentes se devem também ao alto número de testagens. O município tem realizado de 30 a 40 testes rápidos diários e também as empresas Usiminas e Cenibra estão testando maciçamente seus funcionários. Ainda assim, o avanço de casos positivos de Covid-19 na cidade apresenta um índice reduzido de 3,71% para 1,34%, nesta semana, em relação às estimativas para o período. A medição é feita de domingo a sábado, conforme orientação do Ministério da Saúde.

Situação regional

O prefeito de Ipatinga lembrou durante a reunião que, de acordo com o Ministério da Saúde, quando uma cidade atinge uma relação acima de 750 casos de Coronavírus por milhão de habitantes ela entra na classificação em que se recomenda o ‘lockdown’. E todas as cidades da Região Metropolitana estão acima deste patamar. “No Vale do Aço, são 1.916 casos/milhão e, em Ipatinga, 2.215/milhão. Para Coronel Fabriciano, a relação já é de 1.600/milhão, e em Santana do Paraíso, de 3.686/milhão. Os dados de Ipaba apontam para 1.263/milhão; de Timóteo, 856/milhão, e Belo Oriente, 852/milhão”, citou.

A microrregião de saúde de Ipatinga envolve uma população de 426 mil habitantes, praticamente o dobro da microrregião que engloba as cidades de Timóteo e Coronel Fabriciano, onde residem cerca de 215 mil pessoas. A microrregião de Caratinga envolve uma população de 203 mil habitantes.

Novos testes, respiradores e hospital

Para tornar mais clara a realidade do quadro epidemiológico de contágio por Covid-19 no município, Ipatinga já adquiriu 10 mil novos kits para testes rápidos. Os exames serão realizados de forma aleatória entre moradores, mas contemplando os núcleos populacionais nas regiões que estatisticamente têm apresentado o maior número de casos positivos. Outros contingentes a serem priorizados são as forças de segurança, adiantou o prefeito Nardyello Rocha. Ele revelou ainda que mais 5 mil testes deverão ser comprados nos próximos dias, para alcançar um número maior de pessoas.

O município também está adquirindo, por meio de licitação, dez respiradores de alta performance para equipar novas UTIs. “A exigência é que os equipamentos estejam disponíveis para pronta-entrega. Sabemos que os preços estão muito inflacionados, em função da alta procura. Por isso, mesmo que a situação de emergência nos permita abrir mão dos processos de concorrência, fazemos questão de realizar o pregão, garantindo total transparência às aquisições necessárias nesse momento para salvar vidas”, acentuou o prefeito.

Pico da doença

Além de já ter elevado de três para dez o número de leitos de UTI no Hospital Municipal, Ipatinga equipou nas dependências da Escola Canuta Rosa, com apoio de cidades vizinhas integrantes de sua microrregião de saúde, um hospital de retaguarda com 40 leitos de enfermaria. A capacidade pode ser elevada a até 200 leitos. Trata-se de reserva estratégica para receber pacientes de Covid-19 com quadros menos agressivos, na eventualidade de uma situação de saturação nas estruturas convencionais.

Hoje, o índice de contaminação no município está em 1,99%, próximo da média estadual, que é de 1,4%. Já são 12 óbitos confirmados, mas a taxa local de letalidade está em 2,4%, menos da metade da taxa nacional, que atualmente é de 5,6%.

A previsão é de que o pico da doença na região ocorra entre os dias 26 de junho e 4 de julho, isto porque Ipatinga foi um dos primeiros municípios no país a tomar medidas mais drásticas para conter o avanço do Coronavírus, ainda no mês de março. Caso se cumpram estas expectativas, a curva epidemiológica deverá entrar em decréscimo a partir de agosto, trazendo enfim um maior alento à população e autoridades empenhadas no enfrentamento da pandemia.

Guerra sanitária

Como enfatizou a infectologista Carmelinda Lobato, também presente à reunião do Comitê Gestor de Crise, “o grande desafio de todos é controlar a velocidade da curva de contaminação, e para isso o isolamento social é fundamental. Não basta apenas adquirir e contar com respiradores. Há poucos dias, tivemos os óbitos de duas irmãs, de 41 e 48 anos, e mais recentemente recebemos um paciente de apenas 28 anos num estado desesperador”.

“Estamos diante de uma guerra sanitária sem precedentes. A situação também é crítica para contratar recursos humanos e adquirir insumos básicos. Só um esforço integrado será capaz de nos trazer alívio”, acrescentou o dr. José Carlos de Carvalho Gallinari, assessor de Relações Institucionais da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), que participou da reunião em companhia do presidente da instituição, dr. Salvador Prado Júnior.

De forma perturbadora, como descreveram especialistas presentes à reunião, muitas vezes pacientes em enfermaria evoluem rapidamente para quadros de UTI. Em atendimento a recomendações do Ministério da Saúde, a partir de avaliações médicas caso a caso, o protocolo de combate à doença no município inclui a administração da hidroxicloroquina associada à azitromicina.

 

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